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  • Foto do escritorRicardo R. G. Albuquerque

Quando a pesquisa histórica supera a ficção


Koens Pepermans/Freeimages

Hoje em dia não há nenhuma dúvida de que a realidade pode ser mais estranha do que a ficção - o Youtube e as redes sociais estão aí para comprovar. O que se vê nessas ocasiões, entretanto, são flagrantes rápidos da vida cotidiana, engraçados ou revoltantes, que podem ser rapidamente esquecidos.

Para quem quer exemplos mais aprofundados, baseados em pesquisas sérias e escritos em estilos que muitas vezes não deixam muito a dever aos melhores romances, há outras opções. São muitas as obras que abordam aspectos menos conhecidos de acontecimentos e/ou figuras históricas, traçando painéis detalhados de fatos apresentados resumidamente em parágrafos ou frases nos livros de história.

A relação abaixo não segue nenhum critério específico de qualidade ou relevância para os dias atuais. São, simplesmente, obras que contam histórias tão impressionantes, trágicas ou estranhas que parecem pura invenção. Este aspecto é realçado pela reconstituição dos fatos, que muitas vezes cobre anos ou décadas, oferecendo um panorama geral que certamente não estaria disponível para quem viveu em tais períodos.

Assim, por exemplo, para quem viveu na época de Kaspar Hauser, por exemplo, pode ter parecido normal o debate em torno de sua possível descendência da casa real de Baden, ou do mito quase religioso que se formou em torno do personagem. E certamente quem trabalhou com os refugiados após a Segunda Guerra Mundial não podia parar para pensar em quão extraordinária era a situação de tais pessoas, deslocadas de seus lares por motivos que hoje em dia nos parecem absurdos (mas, por outro lado, e a Síria?).

Reunidos em livro, tais histórias ganham em impacto dramático que rivalizam com grandes romances, conforme se pode ver a seguir.

Jan Bondeson

Editora Difel

Ao relatar grandes mistérios históricos em torno da identidade de figuras histórias, o médico e escritor sueco Jan Bondeson inicia com um drama que nos causa impacto. É impossível não se comover com a história do filho do casal Luís XVI e de Maria Antonieta. Encerrado numa prisão após a execução dos pais, o delfim (herdeiro do trono) sofre com o abandono e a doença até perecer aos 12 anos, em 1795. Mas teria sido isso mesmo o que aconteceu? Ao longo do século XIX, começam a surgir figuras mais ou menos excêntricas afirmando ser o príncipe e requerendo seus direitos reais.

A reconstituição feita pelo autor abrange figuras conhecidas, como Kaspar Hauser e as pretendentes à princesa Anastásia, além de outros casos certamente menos conhecidos dos brasileiros, como as longas disputas judiciais que envolveram pessoas que alegaram ser nobres desaparecidos ou falecidos misteriosamente. As excentricidades da nobreza inglesa, pelo visto, deixavam um vasto campo para os trapaceiros.

Fora de Controle - Como o acaso e a estupidez mudaram a história do mundo

Erik Durschmied

Ediouro

Ótima opção para quem gosta de relatos de guerra. Jornalista e historiador que participou da cobertura de vários combates, o autor retrocede até a Guerra de Tróia para demonstrar como decisões impensadas foram decisivas para a resolução de conflitos. Ao contrário dos relatos tradicionais, Durschmied descreve com minúcias os momentos decisivos que levaram aos resultados finais. Ao invés de heróis, o que vemos são seres humanos cometendo os erros aos quais todos estamos sujeitos.

A detalhada descrição da batalha de Azincourt (1415), que marcou um ponto de virada em relação aos antigos combates medievais, e de Waterloo, que selou o destino de Napoleão, são destaques, assim como os erros que levaram à trágica Carga da Brigada Ligeira, na Guerra da Crimeia.

Adam Zamoyski

Editora Record

Após a derrota de Napoleão, em Waterloo, as potências vencedoras se reuniram na Áustria para definir os rumos da Europa. As principais decisões e as consequências do Congresso de Viena estão nos livros de história, mas a obra de Zamoyski descreve todo o transcorrer das negociações, com base em fontes históricas em várias línguas. Aprende-se, na verdade, que o congresso foi uma longa sucessão de bailes suntuosos, no intervalo dos quais procurava-se atender aos interesses, em geral conflitantes, dos países vencedores.

Os embates verbais e por correspondência de figuras históricas, como o czar Alexandre I, o chanceler austríaco, Metternich, e o Duque de Wellington - sem falar em figuras femininas que também buscavam, às vezes através da sedução, interferir nas negociações - alongam a narrativa, mas nem por isso a tornam menos interessante.

Ben Shepard

Paz e Terra

Um dos aspectos mais impressionantes e trágicos da Segunda Guerra Mundial é a transferência maciça de civis que ocorreu durante o conflito. Não apenas fugindo das zonas conflagradas, mas para atuar como trabalhadores escravos ou, como no caso de populações indesejáveis pelos nazistas, como os judeus, para internamento em campos de concentração/extermínio.

Milhões de pessoas pereceram nesse processo, mas outros milhões sobreviveram - e o seu destino após 1945 é o tema principal do livro. Como não podia deixar de ser, há relatos emocionantes e comoventes, mas também uma abordagem franca dos problemas enfrentados pelas autoridades no trato com pessoas traumatizadas, violentas, oportunistas ou que, simplesmente, prefeririam ficar onde estavam a retornar aos seus lares.

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