Para quem está disposto a pensar um pouco fora da caixa, uma boa recomendação são as obras do pensador britânico John N. Gray (nada a ver com o autor de Os homens são de marte etc). Um bom começo é um livrinho do início dos anos 2000, Cachorros de Palha, em que ele procura demonstrar como os conceitos filosóficos e morais são baseados numa visão idealizada da humanidade que não encontra respaldo na realidade.
Ao comparar a experiência humana ao dito do Tao Te King, segundo os qual os seres humanos são como os cachorros de palha das tradições religiosas chinesas (fabricados com capricho e enfeitados para a cerimônia, apenas para serem descartados após o seu final), ele fez jus ao epíteto de “pessimista”. De acordo com seu pensamento, os seres humanos não são, ao contrário do que expressa o pensamento religioso e humanista, separados e superiores aos demais animais.
Nos anos 90, Gray já havia alertado, no livro Falso Amanhecer, que políticas mais conservadoras que vinham sendo adotadas não seriam necessariamente as melhores em termos sociais. Para que não se diga que é um pensador “de esquerda”, sua visão dos regimes autoritários socialista não é menos rigorosa. Na verdade, o que ele defende é que não há uma receita específica e milagrosa para atender a realidades sociais diversas, como defendem os humanistas.
Em recente artigo no site UnHerd (www.unherd.com), Gray alerta para outra questão que pode despertar arrepios dos ambientalistas: a mudança climática já está aí, o que a humanidade precisa fazer é adaptar-se a ela da melhor forma possível. O resto, segundo ele, é pensamento mágico, que “tenta ignorar e fugir da realidade, ao invés de adaptar-se a ela” (tradução livre).
(Publicado originalmente no LinkedIn em 12 de junho de 2019)
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