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Em tempos de incerteza, é bom tomar cuidado com as crenças arraigadas

  • Foto do escritor: Ricardo R. G. Albuquerque
    Ricardo R. G. Albuquerque
  • 25 de mar. de 2020
  • 3 min de leitura

Steve Barker (Davi de Michelangelo), Simon Matzinger (Pirâmides) e Roi Dimor (arara-azul-grande)/Unsplash


A realidade pode ser diferente do que imaginamos ou do que nos foi ensinado. Vamos a alguns exemplos que revelam como aspectos do cotidiano baseiam-se numa interpretação incorreta ou na falta de conhecimento preciso sobre temas específicos:

O IDEAL RENASCENTISTA

Durante a Renascença houve uma valorização da arte antiga, especialmente a arquitetura e a escultura. Daí surgiu o ideal de beleza que conhecemos até hoje, imortalizado em obras-primas como o Davi ou a Madonna de Michelangelo: estátuas de mármore e monumentos imaculados, que logo se tornaram um padrão de beleza “clássica”.

Tal realidade seria vista com muita estranheza por gregos, romanos e outros povos antigos. As estátuas e templos eram profusamente pintados, a um ponto que consideraríamos atualmente como cafona e de mau gosto. O que os artistas renascentistas viram e admiraram era simplesmente o resultado de séculos de desgaste, aliado ao descrédito da arte pagã após o triunfo do cristianismo.

- Para alguns exemplos da arte antiga restaurada em suas cores originais, acesse o site do Smithsonian Institute ou a exposição Gods in Color, da Liebieghaus, de Frankfurt.

O MISTÉRIO DAS PIRÂMIDES

Afinal, como foram construídas as pirâmides? Este é um tema que alimenta uma farta indústria editorial, que não dispensa inclusive a ajuda de extraterrestres (ou a utilização de tecnologia de outros planetas) para oferecer uma solução para o “mistério”. A Grande Pirâmide, em especial, tornou-se foco de inúmeras teorias disparatadas.

A verdade é que as pirâmides e outros monumentos grandiosos do Egito foram construídos porque o país dispunha de uma enorme força de trabalho disponível. Todos os anos, o Nilo inundava as regiões agrícolas por várias semanas, levando à ociosidade uma grande parte da população, composta em sua maior parte por agricultores. Os governantes convocavam então esse contingente para atuar nas obras públicas.

- Para uma visão realista e especializada sobre as pirâmides, uma boa opção pode ser o livro A Verdadeira História por Trás das Pirâmides, de Joyce Tyldesley.

ANIMAIS MONÓGAMOS

Aqui e ali vemos citações de animais que seriam fiéis a seus parceiros durante toda a vida, normalmente como um exemplo para os seres humanos. Essa monogamia seria estendida ao campo sexual e não apenas à criação dos filhotes, fornecendo, assim, um exemplo a ser adotado por casais enfrentando tempos difíceis em sua relação.

É verdade que muitos animais são monógamos no que se refere à criação dos filhotes, mas isso não se estende à monogamia sexual. Exames realizados com várias espécies revelaram que o DNA de muitos filhotes indicavam a paternidade por outros machos – entre elas as que apontam que a análise genética de seis descendentes de espécies de rouxinóis e andorinhas indicou cinco DNAs diferentes! Em casos menos extremos, chegou-se à conclusão de que 10% a 40% dos filhotes não tinham o DNA paterno.

- O Mito da Monogamia, de David P. Barash e Judith Eve Lirton, traz um grande número de pesquisas sobre o assunto. Os monógamos seriais podem se sentir um tanto ofendidos com a abordagem dos autores – não digam que eu não avisei.

E, para finalizar, um item bastante polêmico (e, com certeza, aberto a discussões)

O MITO DA MATERNIDADE

Faz parte do senso comum afirmar que as mulheres têm um senso materno inato, que as faria defender os filhos a todo custo, mesmo que à custa do autossacrifício. A existência de um instinto voltado para a maternidade provoca pouca controvérsia e mesmo casos terríveis de crimes envolvendo mães e crianças não costumam abalá-lo.

Bem, a filósofa francesa Elisabeth Badinter não concorda. No início da década de 80, publicou o livro Um Amor Conquistado – O Mito da Maternidade, com dados sobre os cuidados com as crianças nos séculos XVII e XVIII na França.

Na época, mulheres com um mínimo de recursos enviavam seus filhos, imediatamente após o nascimento, para amas de leite no interior, onde eram mantidas sob condições bastante precárias até os cinco anos, caso sobrevivessem. Ela relaciona ainda outras atitudes para com as crianças do período que demonstrariam a fragilidade da tese de um instinto maternal inato.

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