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  • Foto do escritorRicardo R. G. Albuquerque

Cuide bem da sua saúde... E das suas bactérias


Markus Spiske/Unsplash

Todos conhecem os principais fatores que nos tornam saudáveis: boa alimentação, exercícios, descanso… A maioria das orientações especializadas sobre a manutenção de uma boa saúde gira em torno de aspectos básicos da manutenção da saúde física e mental. Mas há um componente adicional, a respeito do qual estamos sabendo mais e mais nos últimos anos: os seres minúsculos que convivem em simbiose conosco – bactérias, fungos, protozoários.


Cerca de 100 trilhões desses micróbios, em média, habitam nossos organismos, especialmente nos intestinos, onde promovem a principal parcela do processo digestivo. São em sua maioria bactérias, divididos em dezenas de espécies, que disputam entre si os espaços disponíveis e interferem de forma ativa no funcionamento orgânico. Por exemplo: a variedade de espécies destas bactérias pode indicar, por exemplo, se você é (ou ficará) gordo ou magro.


Um bom ponto de partida para se informar é o livro 10% Humano, de Alanna Collen, que reúne um número surpreendente de pesquisas sobre as bactérias presentes no corpo humano. Chegou-se à conclusão de que apenas uma em cada 10 células dos nossos organismos são realmente humanas. (alerta de spoiler: a partir daqui o texto pode se tornar um tanto pesado para as pessoas mais sensíveis) É por isso, por exemplo, que 70% das fezes são compostas de bactérias e outros micro-organismos, vivos ou mortos.


O peso dos ratos


O Youtube traz um vídeo curto da autora (TED) destacando uma das pesquisas realizadas sobre a relação entre microbiota e a obesidade. Duas gêmeas idênticas, uma das quais obesa, tiveram seus microbiomas intestinais transplantados para ratos de laboratório criados em ambiente totalmente esterilizado. Ainda que recebendo a mesma alimentação, o rato que recebeu o microbioma da irmã obesa engordou.


Nestes testes é sempre possível demonstrar que a variedade de bactérias presentes no organismo de pessoas acima do peso é menor do que as de pessoas magras, ou mesmo que determinadas espécies estão mais presentes. A presença destas espécies leva a alterações químicas que induzem o corpo a armazenar mais gordura.


A baixa diversidade de espécies de bactérias também torna o organismo mais vulnerável à proliferação de bactérias nocivas. No que se refere ao nosso microbioma particular, cultivar um excelente relacionamento com as que nos trazem mais benefícios – tornando o ambiente inóspito para as que provocam doenças – é a melhor estratégia.


Fibras e antibióticos


Aumentar a diversidade de espécies de bactérias depende da alimentação. Quanto se fala em variada, aqui, fala-se necessariamente em legumes e verduras ricas em fibras. Por serem difíceis de metabolizar, as fibras vegetais requerem uma maior variedade de bactérias. Como resultado da ação delas, são liberadas substâncias benéficas para o organismo, inclusive a que produz a sensação de saciedade.


Cabe aqui um alerta: não adianta consumir fibras de maneira exagerada, achando que haverá resultados mágicos. O organismo necessita de uma quantidade relativamente pequena de fibras diariamente (médicos ou nutricionistas podem dar uma orientação adequada). Além disso, as mudanças na flora intestinal não ocorrem de forma instantânea. Mas, por experiência pessoal, posso garantir que o simples consumo regular de legumes e verduras compensa em termos de saúde física e mental.


A autora de 10% Humano adverte o uso exagerado de antibióticos, que prejudica a flora intestinal, pode ser uma das respostas para a epidemia de obesidade das últimas décadas. Segundo Alanna, numerosas experiências feitas ao longo do século XX (inclusive uma, bem documentada, do Exército norte-americano) revelam que o consumo regular de antibióticos leva ao aumento de peso. O que levou ao uso maciço do produto na indústria de proteína animal, infelizmente.


Outro alerta: antibióticos são vitais quando prescritos de forma correta, o que sempre deve ser feito sob orientação médica. O que se critica é o uso indiscriminado, que, como se sabe, está ligado ao surgimento de bactérias hiper-resistentes.


Nosso organismo busca sempre o equilíbrio e a autopreservação. Basta deixá-lo trabalhar… o que inclui nossas amigas, as bactérias.


(Publicado originalmente no LinkedIn em 21 de março de 2020)

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