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  • Foto do escritorRicardo R. G. Albuquerque

A mudança também pode ser um hábito



O escritor norte-americano Mark Twain afirmou certa vez que “hábito é hábito e não é para ser jogado pela janela, mas forçado a descer as escadas degrau por degrau” (tradução livre do original “habit is habit and not to be flung out to the window, but coaxed downstairs a step at a time”). Há quem afirme que não tem hábitos,mas a verdade é que se trata de um componente fundamental do nosso cotidiano.


No livro O Poder do Hábito, o jornalista Charles Duhigg descreve casos e situações em que a formação de hábitos provoca consequências duradouras, como é o caso, por exemplo, da pasta de dente. Até o início do século passado, o público em geral usava pós dentifrícios, e foi preciso investir pesado em propaganda para fazê-lo mudar de ideia. No final das contas, a adição de um produto químico que causa uma leve irritação na boca (levando à noção de “frescor”) terminou por ser o componente decisivo para popularizar os cremes dentais.


Num exemplo mais sombrio, ele mostra como cassinos induzem os viciados em jogo a se endividarem, numa espiral que começa com tratamento vip, drinques grátis e crédito estendido até o ponto em que a pessoa perde bens e tem sua vida financeira arruinada. Ou como grandes redes de varejo usam dados sobre hábitos de compras para prever situações de vida, como casamento, divórcio ou gravidez, direcionando com isso ofertas específicas para os perfis incluídos nas análises estatísticas.


Economia de energia


Tudo isso é possível devido a um aspecto importante do funcionamento cerebral: a economia de energia. O cérebro é um consumidor voraz e, por isso, precisa racionalizar funções, levando à padronização de comportamentos, reações instintivas e até mesmo visões de mundo. Duhigg mostra que, em sua origem, todo hábito tem um gatilho e uma recompensa, e esses dois aspectos são essenciais para a mudança.


Quando se identifica o que dispara um determinado hábito, torna-se mais fácil trabalhar na mudança. (Fácil é uma palavra perigosa quando se trata de hábitos e rotinas, que podem esconder questões emocionais. Mas não custa ser otimista.) Estabelecer uma recompensa agiliza o processo, reduzindo a resistência natural do organismo.


Muita calma com novos hábitos


Se você precisa fazer mais exercício físico para como parte de uma dieta para perder peso, por exemplo, uma guloseima após o exercício pode ajudar no início. Com o passar do tempo, o bem-estar causado pela atividade física provavelmente virá a substituir o prazer trazido pela comida, inundando seu organismo de dopamina.


O que não adianta é ter pressa: raramente um novo hábito é cristalizado sem algum esforço. Mas, conforme posso garantir por várias experiências pessoais nos últimos anos, o resultado vale a pena, quando se percebe que aquela ação que parecia impossível finalmente torna-se automática e, mais do que isso, gratificante.  Mudar de vez em quando seu comportamento pode até virar, por sua vez, um novo hábito...


(Publicado originalmente no LinkedIn em 9 de junho de 2019)

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